Pensamentos Espirituais de BENTO XVI

PENSAMENTO UM

O Papa João Paulo II disse: «Não tenhais medo. Abri, ou melhor, escancarai as portas a Cristo!». O Papa dirige-se aos fortes, aos poderosos do mundo, àqueles que temem que Cristo possa retirar-lhes alguma espécie de poder se deixarem entrar e concederem liberdade à fé. Sim, Ele retirar-lhes-á, certamente, alguma coisa: o domínio da corrupção, da subversão do direito, do arbítrio. Mas não lhes retirará nada daquilo que faz parte da liberdade do Homem, da sua dignidade, da construção de uma sociedade mais justa.

PENSAMENTO DOIS

Existem muitas espécies de deserto. Há o deserto da pobreza, o deserto da fome e da sede, o do abandono, da solidão, do amor destruído. Existe o deserto da obscuridade de Deus, do esvaziamento das almas que perderam a consciência da dignidade e do caminho do Homem. Os desertos exteriores vão alastrando no mundo porque os desertos interiores se tornaram tão vastos.

PENSAMENTO TRÊS

Deus, que se fez cordeiro, diz-nos que o mundo é salvo pelo Crucifixo e não pelos que crucificam. O mundo é redimido pela paciência de Deus e destruído pela impaciência dos homens.

PENSAMENTO QUATRO

Quem deixar entrar Cristo não perde nada, nada, absolutamente nada daquilo que torna a vida livre, bela e grande. Não! Só nesta grande amizade experimentamos o que é belo e o que liberta.

PENSAMENTO CINCO

(De São Bento) reconhecemos a recomendação que deixou na sua regra: «Nunca sobrepor nada a Cristo». Como sucessor de Pedro, peço a São Bento que me ajude a conservar firmemente Cristo como centro da nossa existência. Que Ele tenha sempre o primeiro lugar no nosso pensamento e em tudo o que fazemos.


PENSAMENTO SEIS

(Cristo) está junto de cada um de nós, para sempre. Cada um de nós pode tratá-Lo por tu, qualquer um pode chamá-Lo. O Senhor está sempre ao alcance da nossa voz. Ainda que nos afastemos d’Ele interiormente, que vivamos de costas voltadas para Ele, Ele está sempre à nossa espera e conserva-Se perto de nós.

PENSAMENTO SETE

Quando a Sagrada Escritura é separada da viva voz da Igreja, torna-se presa das disputas dos peritos; o trabalho dos estudiosos constitui, para nós, um auxiliar notável para a compreensão do processo VIVO de crescimento das Escrituras e ajuda-nos assim a compreender a sua riqueza histórica. Mas a ciência não pode, por si só, fornecer-nos uma interpretação definitiva e vinculativa; ela não está em posição de nos dar, pela interpretação, aquela certeza que nos permite viver e pela qual nos dispomos também a morrer.

PENSAMENTO OITO

(Medo e Temor). Esta atitude leva o Homem a reconhecer o poder de Deus que actua na História, abrindo-se ao temor de Deus. De facto, na linguagem bíblica, este «temor» não significa medo, mas constitui o reconhecimento do mistério da transcendência divina.

PENSAMENTO NOVE

Tudo o que é constitutivo do nosso ministério sacerdotal não pode ser produto das nossas capacidades pessoais. Isto é válido para a celebração dos Sacramentos, mas vale, igualmente, para o serviço da Palavra: não somos enviados para nos anunciarmos a nós mesmos nem às nossas opiniões pessoais, mas para anunciar o mistério de Cristo e n’Ele, a medida do verdadeiro humanismo.

PENSAMENTO DEZ

A fé Cristã não é uma coisa puramente espiritual e interior e a nossa própria relação com Cristo não é apenas subjectiva e privada. Pelo contrário, é uma relação muito concreta e eclesial.

PENSAMENTO ONZE

A liberdade humana é sempre uma liberdade compartilhada, um conjunto de liberdades: apenas numa harmonia ordenada das liberdades, que desvenda a cada um o âmbito da sua própria liberdade, é possível gerir uma liberdade comum.

PENSAMENTO DOZE

Passando através das portas fechadas, o Senhor ressuscitado entra no lugar onde se encontram os discípulos e saúda-os duas vezes, dizendo: «A Paz esteja convosco!». Nós fechamos as nossas portas constantemente; continuamente, queremos pôr-nos em lugar seguro onde não sejamos perturbados pelos outros nem por Deus. Por isso, apenas podemos suplicar constantemente ao Senhor que venha ter connosco e que, ultrapassando as nossas barreiras, nos traga a salvação.

PENSAMENTO TREZE

O Senhor caminha constantemente ao encontro do mundo… Que os nossos caminhos sejam caminhos de Jesus! Que as nossas casas sejam para Ele e com Ele! Que a Sua presença penetre a nossa vida de cada dia. Deste modo, colocamos sob os Seus olhos os sofrimentos dos doentes, as solidões dos jovens e dos idosos, as tentações, os medos – toda a nossa vida.

PENSAMENTO CATORZE

Do ponto de vista espiritual, o mundo em que ns encontramos, muitas vezes marcado pelo consumismo desenfreado, pela indiferença religiosa, por um secularismo que se fecha à transcendência, pode parecer um deserto tão inóspito como aquele de que nos fala o Livro do Deuterenómio (Dt 8, 15).

PENSAMENTO QUINZE

O caminho que Deus nos indica na sua Palavra segue na direcção que o Homem tem inscrita na sua essência. A Palavra de Deus e a razão andam a par. Para o Homem, seguir a Palavra de Deus, caminhar com Cristo significa realizar-se a si mesmo; perdê-la equivale a perder-se a si mesmo.

PENSAMENTO DEZASSEIS

Se não comunicarmos uns com os outros, não podemos comunicar com Deus. Se queremos apresentar-nos diante d’Ele, devemos também ir ao encontro uns dos outros.
E, para isso, é preciso aprender a grande lição do perdão: não deixar que o ressentimento nos domine, mas abrir o coração à magnanimidade da esuta do outro, à compreensão dele, à eventual aceitação das suas desculpas ou, quando for caso disso, dispormo-nos generosamente a apresentar as nossas.

PENSAMENTO DEZASSETE

Os jovens deverão sentir-se amados pela Igreja… Poderão, assim, experimentar nela a amizade e o amor que o Senhor lhes tem; compreenderão que, em Cristo, verdade e amor são uma só realidade; e aprenderão, por sua vez, a amar o Senhor e a confiar no Seu corpo, que é a Igreja.

PENSAMENTO DEZOITO

O Cristo encarnado e humilhado pela morte mais infame, a morte da cruz, é proposto aos Cristãos como modelo de vida. Com efeito, estes devem ter «os mesmos sentimentos que estão em Cristo Jesus» (Fl 2, 5), sentimentos de humildade e de doação, de desapego e de generosidade.

PENSAMENTO DEZANOVE

A relação educativa é, por natureza, uma coisa delicada: ela faz apelo à liberdade do outro e, ainda que com brandura, desafia-a sempre a tomar uma decisão. Nem os pais, nem os sacerdotes, os catequistas, ou os outros educadores podem substituir-se à liberdade da criança, do adolescente ou do jovem que pretendem educar. A proposta Cristã, em especial, interpela profundamente a liberdade, chamando-a à fé e à conversão.

PENSAMENTO VINTE

A Igreja não é santa em si mesma; na verdade, ela é feita de pecadores – todos o sabemos e bem o vemos. Antes, ela é permanentemente santificada pelo amor purificador de Cristo. Deus não se limitou a falar: amou-nos de uma maneira muito real, até à morte do Seu próprio Filho.

PENSAMENTO VINTE E UM

O sofrimento é a vida para a transformação e, sem sofrimento, nada se transforma.

PENSAMENTO VINTE E DOIS

Os valores morais deixaram de ser evidentes. Estes apenas se tornam evidentes se Deus existir. Ainda que não tenhamos a força da fé, devemos viver com base nesta hipótese, porque senão o mundo não funciona.

PENSAMENTO VINTE E TRÊS

Construir a vida, o futuro, requer também paciência e sofrimento. A Cruz também tem de fazer parte da vida dos jovens e não é fácil fazer entender isto. O montanhista sabe que, para fazer uma grande escalada, terá de treinar-se e enfrentar sacrifícios. Do mesmo modo, o jovem tem de perceber que o exercício da vida interior é necessário para preparar a vida futura.

PENSAMENTO VINTE E QUATRO

É oportuno fazer compreender que o prazer não é tudo. Que o Cristianismo traz alegria, tal como o amor dá alegria. Mas o amor também é sempre uma renúncia de si mesmo. Foi o próprio Senhor Quem nos deu a fórmula para sabermos o que é o amor: quem se perde a si mesmo, encontra-se; quem se acha e conserva a si mesmo, perde-se. O amor é sempre um êxodo e, portanto, comporta sofrimento. A verdadeira alegria é uma coisa diferente do prazer: a alegria cresce e amadurece continuamente no sofrimento em comunhão com a Cruz de Cristo. É dela que nasce a verdadeira alegria da fé.

PENSAMENTO VINTE E CINCO

Mas o que significa «adorar»? Será uma coisa de outros tempos, que deixou de fazer sentido para o Homem contemporâneo? Não!... É um reconhecimento cheio de gratidão, que parte do fundo do coração e se alastra a todo o ser, porque só adorando a Deus e amando-O sobre todas as coisas o Homem consegue realizar-se plenamente.

PENSAMENTO VINTE E SEIS

Existe uma ideia generalizada de que os Cristãos têm de respeitar um sem-número de mandamentos, proibições, princípios e coisas do género e que, portanto, o Cristianismo é uma vida passada e opressiva e que se é mais livre sem todas essas imposições. Pelo contrário, gostaria de deixar bem claro que ser sustentado por um grande amor e por uma revelação não é um fardo, são asas e que ser Cristão é belo.

PENSAMENTO VINTE E SETE

Entendo por sabedoria a compreensão daquilo que é importante, o olhar que capta o essencial… A sabedoria da fé não consiste em dominar uma grande quantidade de pormenores, o que é próprio de uma profissão, mas em olhar para além dos pormenores e identificar o essencial da vida: como ser Pessoa, como construir o futuro.

PENSAMENTO VINTE E OITO

Creio que esta civilização, com todos os seus perigos e esperanças, apenas pode ser «dominada» e conduzida à sua grandeza se aprender a reconhecer as nascentes da sua força; se conseguirmos ver de novo essa «grandeza», de modo que nos seja devolvida a importância da possibilidade de sermos Homens, hoje tão ameaçada; se conseguirmos de novo regozijar-nos por vivermos neste continente, que determinou a sorte do mundo – para o bem e para o mal.

PENSAMENTO VINTE E NOVE

Dantes pensava-se e acreditava-se que, se puséssemos Deus num cantinho e agíssemos autonomamente, nos tornaríamos verdadeiramente livres e poderíamos fazer o que quiséssemos sem que ninguém nos pudesse dar ordens. Mas, quando Deus desaparece, o Homem não ganha grandeza; antes perde a dignidade divina, perde esplendor de Deus no seu rosto. No final, torna-se apenas o produto de uma evolução cega e, como tal, pode ser usado e abusado. É precisamente isto que a experiência desta nossa época confirma. Só quando Deus é grande o Homem pode ser também grande.

PENSAMENTO TRINTA

Sob o peso do trabalho, o rosto cobre-se por vezes de lágrimas: é uma sementeira árdua, quiçá por vezes vetada à inutilidade e ao insucesso. Mas, quando se obtém uma colheita abundante e jubilosa, descobre-se que essa foi uma dor fecunda. No versículo do Salmo 126 (125), 5 está condensada a grande lição sobre o mistério da fecundidade e do sofrimento que a vida pode conter.

PENSAMENTO TRINTA E UM

A perseverança no bem, mesmo quando incompreendida e contestada, acaba sempre por conduzir, no final, à luz, à fecundidade e à paz.

PENSAMENTO TRINTA E DOIS

Os Magos partiram porque nutriam uma grande vontade, que os impelia a deixar tudo e meter-se a caminho. Era como se sempre tivessem esperado aquela estrela. Como se aquela viagem estivesse desde sempre inscrita no seu destino, que então, finalmente, se realizava.

PENSAMENTO TRINTA E TRÊS

Quanto mais conheces Jesus, mais te sentes atraído pelo Seu mistério; quanto mais O encontras, mais te sentes impelido a procurá-lO.

PENSAMENTO TRINTA E QUATRO

O segredo da santidade é a amizade com Cristo e a adesão fiel à Sua vontade.

PENSAMENTO TRINTA E CINCO

O novo Rei, perante o qual (os Magos) se tinham prostrado em adoração, era muito diferente daquele que esperavam encontrar. Foi assim que tiveram que aprender que Deus é diferente daquilo que imaginamos. Aqui começa o seu caminho interior… Servindo-O e seguindo-O, queriam servir, juntamente com Ele, a causa da justiça e do bem no mundo. E nisto tinham razão. Agora, porém, aprendem que isso não pode ser realizado meramente através de comandos de autoridade e do alto de um trono. Agora aprendem que têm de se dar a si mesmos – este Rei não se contenta com um dom menor do que esse. Agora aprendem que a sua vida deve conformar-se com este modo divino de exercer o poder, com esta maneira de pertencer ao próprio Deus.
Têm de tornar homens da verdade, do direito, da bondade, do perdão, da misericórdia. Nunca mais perguntarão: «Para que me serve isto?». Em vez disso, hão-de perguntar: «Com que coisas sirvo eu a presença de Deus no mundo?».
Precisam de aprender a perder-se a si mesmos para, do mesmo modo, se encontrarem.

PENSAMENTO TRINTA E SEIS

Os beatos e santos foram pessoas que não buscaram obstinadamente a sua própria felicidade, mas simplesmente quiseram dar-se porque foram iluminados pela luz de Cristo. São eles que nos indicam o caminho para a felicidade e nos mostram como havemos de conseguir ser pessoas realmente humanas.

PENSAMENTO TRINTA E SETE

Liberdade não significa gozar a vida, achar-se completamente independente, mas orientar-se segundo a medida da verdade e do bem para assim nos tornarmos também verdadeiros e bons.

PENSAMENTO TRINTA E OITO

Quando pensamos e vivemos em comunhão com Cristo, então os nossos olhos abrem-se. Nunca mais seremos capazes de andar preocupados apenas connosco próprios, mas procuraremos ver onde e como somos necessários. Vivendo e agindo assim, rapidamente chegaremos à conclusão de que é muito melhor ser útil e estar à disposição dos outros do que pensar apenas na nossa comodidade.

PENSAMENTO TRINTA E NOVE

A fé não é simplesmente a adesão a um conjunto de dogmas, já de si completo, destinado a matar a sede de Deus que existe no espírito do Homem. Pelo contrário, ela projecta o homem que caminha no tempo na direcção de um Deus que Se renova constantemente na sua infinitude. Por isso, o Cristão é simultaneamente alguém que busca e alguém que encontra.

PENSAMENTO QUARENTA

No abandono sereno e fiel da nossa liberdade ao Senhor, também as nossas obras se tornam sólidas, capazes de produzir um fruto permanente. O nosso «sono» (Sl 127 (126), 2) torna-se, assim, um repouso abençoado por Deus, destinado a selar uma actividade consistente e com sentido.

PENSAMENTO QUARENTA E UM

Marcar-se a si próprio com o Sinal da Cruz é pronunciar um sim visível e público Àquele que morreu por nós e ressuscitou, a Deus que, na humildade e na fragilidade do Seu amor, é o Omnipotente, mais forte que qualquer potência e inteligência deste mundo.

PENSAMENTO QUARENTA E DOIS

No próprio centro da vida social deve existir uma presença que evoque o mistério transcendente de Deus. Deus e o Homem caminham juntos na História, e os templos têm a função de assinalar esta comunhão de modo visível.

PENSAMENTO QUARENTA E TRÊS

A Igreja não vive de si mesma, mas do Evangelho, dele extraindo continuamente a orientação para o seu caminho. Cada Cristão deve anotar e aplicar a si mesmo este princípio: só aquele que se dedica antes de mais à escrita da palavra pode vir a anunciá-la. Com efeito, ninguém deve ensinar a sua própria sapiência, mas a sapiência de Deus, que muitas vezes se apresenta aos olhos do mundo como estultícia.

PENSAMENTO QUARENTA E QUATRO

Acreditar, com efeito, consiste sobretudo em confiar a Deus Que nos conhece e ama e em acolher a Verdade que o Pai revelou em Cristo, numa atitude que nos leva a confiar n’Ele, que nos revela o Pai. Apesar das nossas fraquezas e dos nossos pecados, Ele ama-nos e este amor dá sentido à nossa vida e à vida do mundo.

PENSAMENTO QUARENTA E CINCO

A resposta a Deus exige aquele caminho interior que leva o crente a encontrar-se com o Senhor. Tal encontro apenas é possível se o homem for capaz de abrir o coração a Deus, Que fala nas profundezas da consciência. Para isso é preciso interioridade, silêncio, vigilância.

PENSAMENTO QUARENTA E SEIS

À promessa e ao dom de Deus, que nada têm de mágico, devemos responder com a adesão fiel e empenhada num diálogo em que se entrecruzem duas liberdades: a divina e a humana.
PENSAMENTO QUARENTA E SETE

A oração do Sacerdote constitui uma exigência do seu ministério pastoral, uma vez que o testemunho do Sacerdote que reza, proclamando a transcendência de Deus e envolvendo-se no seu ministério, é imprescindível para a comunidade.

PENSAMENTO QUARENTA E OITO

Perante um panorama como o actual, complexo e em constante mutação, a virtude da esperança é duramente posta à prova na comunidade dos crentes. Precisamente por isso, devemos ser apóstolos cheios de esperança, confiando alegremente nas promessas de Deus. Ele nunca abandona o Seu povo, antes o convida à conversão para que o seu Reino se torne realidade. O Reino de Deus não significa apenas que Deus existe e está vivo, mas também que está presente e actua no mundo. Esta é a realidade mais íntima e decisiva em cada acto da vida humana, em cada momento da História.

PENSAMENTO QUARENTA E NOVE

Muitos (jovens) pensam, erradamente, que tomar compromissos ou decisões implica perder a liberdade. Convirá recordar-lhes que, pelo contrário, o Homem se torna tanto mais livre quanto mais incondicionalmente se compromete com a verdade e com o bem. Só poderão dar um sentido à vida e construir algo grande e duradouro se colocarem Jesus no centro da sua existência.

PENSAMENTO CINQUENTA

A água dá fertilidade à terra: é o dom fundamental, que torna a vida possível. O vinho, por sua vez, exprime a excelência da criação, dá-nos a festa pela qual ultrapassamos os limites do quotidiano: o vinho «alegra o coração».

PENSAMENTO CINQUENTA E UM

A tolerância que, por assim dizer, admite Deus como opinião privada mas nega a sua presença no domínio público, na realidade do mundo e da nossa vida, não é tolerância – é hipocrisia.

PENSAMENTO CINQUENTA E DOIS

O ídolo não é mais do que «obra das mãos do homem» (Sl 135) (134), (15), um produto da vontade humana; não pode, portanto, superar os limites inerentes à sua condição de obra criada… Quem adora estas realidades mortas está destinado a tornar-se como elas: frágil, inerte.
Estes versículos apresentam claramente a eterna tentação do Homem de procurar a Salvação na «obra das suas mãos», colocando a sua esperança na riqueza, no poder, no sucesso, na matéria.

PENSAMENTO CINQUENTA E TRÊS

A espiritualidade não reduz a carga científica, mas confere ao estudo da teologia o método correcto para poder chegar a uma interpretação coerente.

PENSAMENTO CINQUENTA E QUATRO

A fé não se reduz a um sentimento privado, porventura a esconder quando se torna incómodo, mas implica a coerência e o testemunho público a favor do Homem, da justiça e da verdade.

PENSAMENTO CINQUENTA E CINCO

A despedida no fina da Missa: «Ide em paz e o Senhor vos acompanhe» recorda a «missio», a tarefa que é confiada a todos os que participaram na celebração de levar a todos a Boa Nova recebida e animar com ela a sociedade.

PENSAMENTO CINQUENTA E SEIS

A religião bíblica não é abstracta nem intimista, mas constitui fermento de justiça e solidariedade. A comunhão com Deus leva necessariamente à comunhão entre os irmãos.

PENSAMENTO CINQUENTA E SETE

A Igreja de hoje tem de ser uma verdadeira Jerusalém, ou seja, um lugar de paz onde nos «levamos mais aos outros» tal como somos e onde avançamos juntos na certeza jubilosa de que o Senhor nos «leva a todos».
PENSAMENTO CINQUENTA E OITO

As coisas mais profundas, precisamente aquelas que sustentam realmente a vida e o mundo, não podem ser vistas, embora possamos ver e sentir os seus efeitos. Não vemos a corrente eléctrica, mas vemos a luz que a electricidade produz. E assim por diante. Da mesma maneira, não conseguimos ver o Senhor Ressuscitado com os nossos próprios olhos, mas vemos que, onde está Jesus, as pessoas mudam, tornam-se melhores. Portanto, não vemos o Senhor, mas vemos os seus efeitos: assim podemos compreender que Jesus está presente.

PENSAMENTO CINQUENTA E NOVE

Se Deus fica ausente da minha vida, se Jesus fica ausente da minha vida, falta-me um guia, uma amizade essencial e também uma alegria que me faz falta para a vida. Falta-me também a força para crescer como pessoa, para superar os meus vícios e para amadurecer em termos humanos.

PENSAMENTO SESSENTA

A imagem do pássaro (Sl 84 (83),4) é uma imagem jubilosa, através da qual o salmista nos dá a entender que toda a sua vida se transformou num cântico. Pode cantar e voar. O próprio canto é quase um voo, uma elevação para Deus, uma certa forma de antecipação da eternidade, quando poderemos «cantar eternamente os louvores do Senhor».

PENSAMENTO SESSENTA E UM

O santo é aquele que se sente de tal forma fascinado pela beleza de Deus e pela perfeição da Sua verdade que se deixa progressivamente transformar por elas.

PENSAMENTO SESSENTA E DOIS

As verdadeiras alegrias escondem-se, por vezes, atrás das pequenas coisas e obtêm-se cumprindo diariamente os deveres com espírito de serviço.

PENSAMENTO SESSENTA E TRÊS

«Ele, Jesus, gosta de ti» (Gregório Nazianzeno). Esta palavra de ternura é para nós uma grande consolação e um conforto, mas também uma grande responsabilidade, dia após dia.
PENSAMENTO SESSENTA E QUATRO

«Tende entre vós os mesmos sentimentos que estão em Cristo Jesus» (Fl 2, 5). Aprender a sentir como Jesus sentia; conformar o modo de pensar, de decidir e de agir com os sentimentos de Jesus.
Se procuramos conformar os nossos sentimentos com os de Jesus, tomemos esta estrada, sigamos pelo caminho certo.

PENSAMENTO SESSENTA E CINCO

Feliz o homem que dá; feliz o homem que não utiliza a vida em proveito próprio, mas que dá; feliz o homem misericordioso, bom e justo; feliz o homem que vive no amor de Deus e do próximo. É assim que vive no amor de Deus e do próximo. É assim que se vive bem e, vivendo assim, não precisamos de ter medo da morte, porque estamos na felicidade que vem de Deus e que nunca acaba.

PENSAMENTO SESSENTA E SEIS

Não se iludam! Um ensinamento católico proposto de modo incompleto constitui uma contradição em si mesmo e não pode dar frutos a longo prazo.
O anúncio do Reino de Deus anda par a par com a exigência de conversão e com o amor que estimula, que conhece o caminho e que ensina a compreender que, com a graça de Deus, tudo é possível, mesmo o que parece impossível.

PENSAMENTO SESSENTA E SETE

Não vos contenteis com uma religiosidade externa. Deus não se contenta com um povo que O venera com os lábios. Ele quer o coração e, em troca, dá-nos a Sua graça, desde que não nos afastemos ou separemos d’Ele.

PENSAMENTO SESSENTA E OITO

A leitura espiritual consiste em deter-se sobre um texto bíblico, lendo-o e relendo-o ou, como diziam os Padres, «ruminando-o», extraindo-lhe, por assim dizer, o suco que vai alimentar a meditação e a concentração e irrigar a vida concreta como a linfa.

PENSAMENTO SESSENTA E NOVE

A missão da Igreja consiste em Testemunhar a verdade de Jesus Cristo, o Verbo Encarnado. Palavra e testemunho andam a par: a Palavra exige e dá a conhecer o testemunho. O testemunho retira a sua autenticidade da fidelidade total à Palavra.

PENSAMENTO SETENTA

«Alguns, levados ao engano pelo ateísmo que tinham dentro de si, imaginaram um universo desprovido de liderança e de ordem, como que entregue a si próprio» (Basílio Magno). Quantos e quantos «alguns» existem nos nossos dias! Levados ao engano pelo ateísmo, acham e procuram demonstrar que o pensamento científico implica a inexistência de guia ou de ordem. Pela Sagrada Escritura, o Senhor acorda a razão adormecida e afirma: no princípio era a Palavra criadora.

PENSAMENTO SETENTA E UM

Jesus é o Caminho aberto a «todos»; não há mais nenhum. E aqueles que porventura se apresentam como alternativos, na medida da sua autenticidade, reconduzem-nos a Ele. De outro modo, não conduzem à vida.

PENSAMENTO SETENTA E DOIS

O Senhor consegue sempre suprir as nossas lacunas e a exiguidade dos meios que temos à nossa disposição. O que interessa não é tanto a eficiência da organização, mas a inabalável confiança em Cristo, porque é Ele próprio Quem guia, governa e santifica a sua Igreja.

PENSAMENTO SETENTA E TRÊS

Para nós, o perigo é que a memória do mal, dos males sofridos, se sobreponha frequentemente à do bem. O salmo (136 (135)) serve também para despertar de novo em nós a memória do bem, do tanto bem que o Senhor nos fez e faz e que só podemos ver se tivermos o coração atento: é verdade, a misericórdia de Deus é eterna e está presente dia após dia.

PENSAMENTO SETENTA E QUATRO

A comunidade cristã é uma realidade de pessoas que têm as suas regras, um corpo vivo que está no mundo para testemunhar a força do Evangelho, em Jesus. Trata-se, portanto, de um conjunto de irmãos sem objectivos de poder ou interesse egoístico que vive na alegria da caridade de Deus, que é Amor.

PENSAMENTO SETENTA E CINCO

O crente sabe bem que o Evangelho tem uma sintonia intrínseca com os valores inscritos na natureza humana. A imagem de Deus está tão profundamente gravada no espírito humano que dificilmente se pode fazer calar a voz da consciência.

PENSAMENTO SETENTA E SEIS

Os seres humanos fazem parte da natureza e, todavia, enquanto sujeitos livres e detentores de valores morais e espirituais, transcendem-na. Esta realidade antropológica faz parte integrante do pensamento cristão e responde directamente às tentativas de abolir a fronteira entre as Ciências Sociais e as Ciências Naturais, tantas vezes ensaiadas pela sociedade contemporânea.

PENSAMENTO SETENTA E SETE

Como é fácil contentar-se com os prazeres superficiais que a existência quotidiana oferece! Como é fácil viver só para si mesmo, aparentemente gozando a vida! Mas, mais cedo ou mais tarde, damo-nos conta de que não se trata de verdadeira felicidade, porque esta só pode ser encontrada num nível mais profundo: em Jesus.

PENSAMENTO SETENTA E OITO

O progresso técnico, se bem que necessário, não é tudo; progresso verdadeiro é apenas aquele que salvaguarda integralmente a dignidade do ser humano e permite a cada povo partilhar os seus próprios recursos, materiais e espirituais, em benefício de todos.

PENSAMENTO SETENTA E NOVE

A possibilidade de demonstração por meio da experimentação tem vindo a afirmar-se como critério da racionalidade cada vez mais exclusivo. As questões fundamentais do ser humano – como viver e como morrer – parecem assim excluídas do âmbito da racionalidade e são relegadas para o domínio da subjectividade… Eis, então, um grande desafio: fazer Ciência no horizonte de uma racionalidade diferente da que hoje predomina, segundo uma razão aberta ao transcendente, a Deus.

PENSAMENTO OITENTA

Sabemos que, nesta matéria, não se trata apenas de didáctica, do aperfeiçoamento dos métodos de transmissão do saber, mas de uma educação baseada no encontro directo e pessoal com cada um, no testemunho – ou seja, na autêntica transmissão da fé, da esperança, da caridade e dos valores de que elas decorrem directamente – de pessoa para pessoa. Trata-se, portanto, de um verdadeiro encontro de uma pessoa com outra em que esta última escuta e compreende a primeira.

PENSAMENTO OITENTA E UM

A educação na fé deve consistir, antes de mais, no desenvolvimento daquilo que cada pessoa tem de bom.

PENSAMENTO OITENTA E DOIS

Estás disposto a dar-me a tua carne, o teu tempo, a tua vida? É esta a voz do Senhor que quer entrar também no nosso tempo, na vida dos homens através de nós. Ele procura uma morada viva, a nossa vida. Eis a vinda do Senhor. É isto que queremos aprender durante o tempo do Advento: que o Senhor possa vir ao mundo por meio de nós.

PENSAMENTO OITENTA E TRÊS

(Santo Agostinho) sabe que, entre os habitantes da Babilónia, existem pessoas empenhadas na paz e no bem da comunidade, apesar de não partilharem a fé bíblica e de não conhecerem a esperança da Cidade Eterna à qual aspiramos. Eles transportam em si uma centelha de desejo do desconhecido, de algo maior, do transcendente, de uma verdadeira redenção… E com esta abertura de esperança também aos Babilónios, aos que, não conhecendo Cristo nem mesmo Deus, aspiram ao desconhecido, ao eterno, Santo Agostinho convida-nos também a perseverar no caminho para Deus sem nos fixarmos apenas nas coisas materiais do momento presente (Sl 136, 1).
PENSAMENTO OITENTA E QUATRO

O trabalho do teólogo exige, evidentemente, competência científica, mas, também, tanto ou mais, o espírito de fé e de humildade de quem sabe que o Deus vivo e verdadeiro, objecto das suas reflexões, ultrapassa infinitamente as capacidades do Homem. Só pela oração e pela contemplação podemos adquirir o sentido de Deus e tornar-nos permeáveis à acção do Espírito Santo.

PENSAMENTO OITENTA E CINCO

Tal como Deus é soberanamente livre para se revelar e para se dar, porque apenas o amor move, assim também o ser humano é livre de cumprir o dever de dar a sua anuência a Deus: Deus espera uma resposta de amor.

PENSAMENTO OITENTA E SEIS

Devemos estar seguros de que, por muito duras e tempestuosas que sejam as provas a que possamos estar sujeitos, nunca ficaremos abandonados a nós próprios. O Senhor nunca nos largará das suas mãos que nos criaram e que agora nos acompanham ao longo de toda a vida (Sl 138) (137), (8).

PENSAMENTO OITENTA E SETE

Quanto mais uma pessoa se dá, mais se encontra a si mesma.

PENSAMENTO OITENTA E OITO

O amor não significa dependência, mas é antes um dom que nos faz viver.

PENSAMENTO OITENTA E NOVE

A liberdade de um ser humano é a liberdade de um ser limitado e é, portanto, limitada em si mesma. Apenas podemos possuí-la como liberdade compartilhada numa comunhão de liberdades: a liberdade só se pode desenvolver se vivermos de maneira certa mas com os outros e uns para os outros.

PENSAMENTO NOVENTA

Quanto mais perto de Deus, mais perto dos Homens.

PENSAMENTO NOVENTA E UM

Tende a coragem de ousar com Deus! Experimentai! Não tenhais medo d’Ele! Tende coragem de arriscar com a fé! Tende coragem de arriscar com a bondade! Tende a coragem de arriscar com a pureza de coração! Comprometei-vos com Deus e então vereis como a vossa vida se ilumina, como se ganha grandeza, como deixa de ser aborrecida para se encher de um sem-número de surpresas, porque a bondade infinita de Deus nunca se esgota.

PENSAMENTO NOVENTA E DOIS

Perante o avanço do hedonismo, é-vos pedido o corajoso testemunho da castidade como expressão de um coração que conhece a beleza e o valor do amor de Deus. Face à sede do dinheiro, a vossa sobriedade e disponibilidade para o serviço dos mais necessitados recorda que Deus é a verdadeira riqueza imperecível. Face ao individualismo e ao relativismo, que leva cada um a ser a única norma de si mesmo, a vossa vida fraterna, capaz de se deixar condenar e, portanto, aberta à obediência, comprova que vós pondes a vossa realização em Deus.

PENSAMENTO NOVENTA E TRÊS

A própria escuridão, que torna difícil ver e prosseguir o caminho, é penetrada pelo olhar e pela epifania do Senhor do Ser e do Tempo.
Ele está sempre pronto a dar-nos a sua mão e a guiar-nos no nosso itinerário terreno (Sl 139 (138), 10). A sua proximidade não é, portanto, a do juiz que incute terror, mas uma proximidade de apoio e libertação.

PENSAMENTO NOVENTA E QUATRO

Crer em Cristo significa deixar-se envolver pela luz da Sua verdade que dá pleno significado, valor e sentido à existência, visto que, ao revelar o mistério do Pai e do seu amor, Ele desvenda também plenamente, o Homem a si mesmo e manifesta-lhe a sua altíssima vocação.

PENSAMENTO NOVENTA E CINCO

Deus não é um ser desconhecido, enigmático e quiçá perigoso Que está longe de nós. Deus está próximo, tão próximo que se faz Menino e O podemos tratar por «tu».

PENSAMENTO NOVENTA E SEIS

O verdadeiro presente de Natal é a alegria, não são os presentes caros que custam tempo e dinheiro. Podemos comunicar esta alegria de um modo simples: com um sorriso, com um gesto de bondade, com uma pequena ajuda, com um perdão. Se tivermos esta alegria, a alegria de darmos voltará para nós.

PENSAMENTO NOVENTA E SETE

Estamos num mundo de medos: medo da miséria e da pobreza, medo da solidão e da morte.
Neste nosso mundo, temos um sentido de seguros muito desenvolvidos… Sabemos, no entanto, que não há seguro que nos proteja nos momentos de sofrimento profundo, nem no momento derradeiro de solidão da more.
Nesses momentos, o único seguro que nos pode valer é o que vem do Senhor, que nos diz também a nós: «Não temas, eu estarei sempre contigo». Podemos cair, mas caímos sempre nas mãos de Deus, ou seja, em boas mãos.

PENSAMENTO NOVENTA E OITO

O silêncio de José não é sinal de um vazio interior, mas, pelo contrário, de plenitude da fé que tem no seu coração e guia toda a sua acção.
Um silêncio graças ao qual José, em uníssono com Maria, guarda a Palavra de Deus, conhecida através da Sagrada Escritura, confrontando-a a cada momento com a vida de Jesus; um silêncio feito de oração constante em que bendiz o Senhor, adora a Sua Santa Vontade e manifesta uma confiança sem reservas na sua providência.
Não será exagero pensar que terá sido com o seu «Pai» José que Jesus aprendeu – em termos humanos – aquela sólida interioridade que constitui pressuposto da justiça autêntica…
Deixemo-nos contagiar pelo silêncio de José! Precisamos tanto dele, neste mundo excessivamente ruidoso, onde não é possível o recolhimento para escutar a voz de Deus!

PENSAMENTO NOVENTA E NOVE

No Menino de Belém, a pequenez de Deus feito homem, revela-nos a grandeza do homem e a nossa dignidade de filhos de Deus e de irmãos de Jesus.

PENSAMENTO CEM

Ao ver as praças e ruas profundamente iluminadas, lembremo-nos de que estas luzes fazem apelo a uma outra luz que não podemos ver com os olhos, mas tão-só com o coração. Que, ao admirá-las, ao acendermos a velas nas igrejas ou as luzes do presépio e da árvore de Natal em nossas casas, o nosso espírito se abra à verdadeira luz espiritual oferecida a todos os homens de boa vontade!

PENSAMENTO CENTO E UM

É certo que devemos fazer tudo o que pudermos para aliviar o sofrimento e impedir a injustiça resultante do sofrimento dos inocentes. No entanto, também devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que os homens possam descobrir o sentido do sofrimento e assim consigam aceitá-lo e uni-lo ao sofrimento de Cristo. Deste modo, o sofrimento funde-se com o amor redentor e transforma-se numa força contra os males do mundo.

PENSAMENTO CENTO E DOIS

Não devemos ver o mundo que nos rodeia apenas como matéria prima que nos permite fazer alguma coisa, mas tentemos descobrir nele a «caligrafia do Criador», a razão criadora e o amor que deu origem ao mundo e do qual todo o universo nos fala; consegui-lo-emos se estivermos atentos, se os nossos sentidos interiores despertarem e forem capazes de apreender as dimensões mais profundas da realidade.

PENSAMENTO CENTO E TRÊS

A Eucaristia é o encontro e união de pessoas; mas a pessoa que vem ao nosso encontro e deseja unir-se a nós é o Filho de Deus. Essa união realiza-se através da adoração. Receber a Eucaristia significa adorar Aquele Que recebemos. E é precisamente assim, e só assim, que nos tornamos um só com Ele.

PENSAMENTO CENTO E QUATRO

Emerge assim novamente a grandeza transcendente do conhecimento divino, que não abrange apenas o passado e o presente da humanidade, mas se estende até ao horizonte ainda desconhecido do futuro. Ao mesmo tempo, manifesta-se também a grandeza desta pequena vida humana ainda por nascer, formada pela mão de Deus e rodeada do seu amor: um elogio bíblico ao ser humano desde o primeiro momento da sua existência.

PENSAMENTO CENTO E CINCO

Deus é assim: não Se impõe, nunca entra à força, mas, tal como as crianças, pede que O acolham. De alguma maneira, também Deus Se apresenta carente de atenção esperando que Lhe abramos o coração e que tomemos conta d’Ele.

PENSAMENTO CENTO E SEIS

Quando o Homem se deixa iluminar pelo esplendor da verdade, torna-se interiormente um corajoso artífice da paz.

PENSAMENTO CENTO E SETE

É oportuno recuperar a consciência de estarmos todos ligados por um mesmo destino, em última instância transcendente, para assim podermos valorizar ao máximo as diferenças históricas e culturais sem entrarmos em confronto com os membros de outras culturas, mas procurando coordenar-nos com Ele. São estas simples verdades que tornam possível a paz; e tornam-se fáceis de entender se escutarmos o nosso coração com pureza de intenções. A paz surge assim como algo novo: de mera ausência de guerra passa a ser vista como a convivência dos cidadãos individuais numa sociedade governada pela justiça na qual, tanto quanto possível, se realiza o bem para cada um deles.

PENSAMENTO CENTO E OITO

Sim, existe progresso na História. Ou, se quisermos, existe uma evolução na História. Progresso é tudo aquilo que nos aproxima de Cristo e que nos aproxima, assim, da humanidade unida, do verdadeiro humanismo. E esta perspectiva esconde também um imperativo para nós: trabalhar pelo progresso que todos desejamos. Podemos fazê-lo trabalhando pela aproximação dos homens a Cristo; podemos fazê-lo conformando-nos pessoalmente a Cristo e caminhando deste modo na verdadeira senda do progresso.

PENSAMENTO CENTO E NOVE

No Menino de Belém, Deus revelou-se na humildade da «forma humana», na «condição de servo», ou melhor, na de crucificado (Fl 2, 6-8). É o paradoxo Cristão. É precisamente nesta modéstia que reside a mais estrondosa «manifestação» de Deus: a humildade, a pobreza e a própria ignomínia da Paixão dão-nos a conhecer o verdadeiro Deus.

PENSAMENTO CENTO E DEZ

Nenhum de nós sabe o que acontecerá ao nosso planeta nem à nossa Europa nos próximos cinquenta, sessenta ou setenta anos. Mas de uma coisa estamos certos: a família de Deus estará sempre presente e quem pertence a esta família nunca estará só, terá sempre a amizade d’Aquele que dá a vida.

PENSAMENTO CENTO E ONZE

A cruz é o resumo da vida de Jesus.

PENSAMENTO CENTO E DOZE

Não é possível atingir as verdades do espírito, aquelas que dizem respeito ao bem e ao mal, às grandes perspectivas da vida, à relação com Deus, sem que daí advenham reflexos profundos para a condução da própria vida.

PENSAMENTO CENTO E TREZE

O direito de liberdade de religião diz respeito à relação humana mais importante: a relação com Deus. Gostaria de dizer a todos os responsáveis pela vida das nações: se não temeis a verdade, não podeis temer a liberdade.

PENSAMENTO CENTO E CATORZE

No nosso tempo, é importante não esquecer Deus, a par de todos os outros conhecimentos que temos vindo a adquirir ao longo dos tempos. Com efeito, todos estes se podem tornar problemáticos e até mesmo perigosos se faltar o conhecimento fundamental que dá sentido a tudo: o conhecimento de Deus Criador.

PENSAMENTO CENTO E QUINZE

Ser discípulo de Cristo é tudo quanto basta ao cristão. A amizade com o Mestre garante paz profunda e serenidade à alma, mesmo nos momentos escuros e perante as mais árduas provas. Quando a fé se depara com as noites escuras em que já não se «ouve» nem se «vê» a presença de Deus, a amizade de Jesus garante que, na realidade, nada nos poderá separar do seu amor.

PENSAMENTO CENTO E DEZASSEIS

A fé não é uma teoria da qual nos podemos apropriar ou mesmo instalar. É uma coisa muito concreta: é o critério que decide o nosso estilo de vida.

PENSAMENTO CENTO E DEZASSTE

Só um povo que conhece Deus e defende os valores espirituais e morais pode caminhar rumo a uma paz profunda e tornar-se também uma força de paz para o mundo e para os outros povos.

PENSAMENTO CENTO E DEZOITO

O amor verdadeiro não anula as diferenças legítimas, mas harmoniza-as numa unidade superior, que é imposta do exterior, mas que, por assim dizer, dá forma ao conjunto a partir do interior. É o mistério da comunhão.

PENSAMENTO CENTO E DEZANOVE

Nós cremos no amor de Deus – deste modo pode o cristão exprimir a opção fundamental da sua vida.
No início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma pessoa que dá à vida um novo horizonte é, desta forma, o rumo decisivo.

PENSAMENTO CENTO E VINTE

O amor é «êxtase»; êxtase, não no sentido de um instante de inebriamento, mas sim como caminho, como êxodo permanente do eu fechado em si mesmo para a sua libertação no dom de si e, precisamente dessa forma, para o reencontro de si mesmo, mais ainda para a descoberta de Deus.
PENSAMENTO CENTO E VINTE E UM

A verdadeira novidade do Novo Testamento não reside em novas ideias, mas na própria figura de Cristo, que dá carne e sangue aos conceitos – um incrível realismo.

PENSAMENTO CENTO E VINTE E DOIS

O amor pode ser «mandado» porque antes nos é dado (Mc 12, 31)

PENSAMENTO CENTO E VINTE E TRÊS

Eu vejo com os olhos de Cristo e posso dar ao outro muito mais do que as coisas externamente necessárias: posso dar-lhe o olhar de amor que ele precisa.

PENSAMENTO CENTO E VINTE E QUATRO

A parábola do bom Samaritano permanece como critério de medida, impondo a universalidade do amor que se inclina para o necessitado encontrado «por acaso» (Lc 10, 31), seja ele quem for.

PENSAMENTO CENTO E VINTE E CINCO

Todos nós somos impelidos pela mesma motivação fundamental e temos diante dos olhos idêntico objectivo: um verdadeiro humanismo, que reconhece no ser humano a imagem de Deus e quer ajudá-lo a levar uma vida conforme a esta dignidade.

PENSAMENTO CENTO E VINTE E SEIS

(E quem realiza a caridade) sabe que o amor, na sua pureza e gratuidade, é o melhor testemunho de Deus em que acreditamos e que nos impele a amar. O cristão sabe quando é tempo de falar de Deus e quando é justo não o fazer, deixando falar somente o amor. Sabe que Deus é amor (1 Jo 4, 8) e torna-se presente precisamente nos momentos em que nada mais se faz a não ser amar.

PENSAMENTO CENTO E VINTE E SETE

Quem reza não desperdiça o tempo, mesmo quando a situação apresenta todas as características de uma emergência e parece impelir unicamente para a acção.
PENSAMENTO CENTO E VINTE E OITO

É certo que Job pôde lamentar-se a Deus por causa do sofrimento, incompreensível e aparentemente injustificado, presente no mundo… (Job 23, 3-5-6.15-16). Muitas vezes não nos é concedido saber o motivo pelo qual Deus retém o seu braço em vez de intervir. Aliás, Ele não nos impede sequer de gritar, como Jesus na Cruz: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?» (Mt 27, 46). Num diálogo orante, havemos de lançar-lhe ao rosto esta pergunta: «Até quando esperarás, Senhor, Tu, Que és Santo e Verdadeiro?» (Ap 6, 10). Santo Agostinho dá a este nosso sofrimento a resposta da fé - «Se o compreendesses, não seria Deus».

PENSAMENTO CENTO E VINTE E NOVE

A fé, a esperança e a caridade caminham juntas. Em termos práticos, a esperança manifesta-se nas virtudes da paciência, que não esmorece na prática do bem, mesmo em face de um aparente insucesso, e da humildade, que aceita o mistério de Deus e confia n’Ele, mesmo na escuridão.

PENSAMENTO CENTO E TRINTA

«A minha alma engrandece o Senhor» (Lc 1, 46), (Maria) exprime assim todo o programa da sua vida: não se colocar a si mesma ao centro, mas dar espaço ao Deus que encontra tanto na oração como no serviço ao próximo – só então o mundo se torna bom. Maria é grande, precisamente porque não quis fazer-se grande a si própria, mas engrandecer a Deus.

PENSAMENTO CENTO E TRINTA E UM

Maria mostra assim que o seu papel na história da Salvação não se esgota no mistério da Encarnação, mas completa-se na participação amorosa e dolorosa da ressurreição do seu Filho.

PENSAMENTO CENTO E TRINTA E DOIS

Onde Deus não está, também o Homem deixa de ser respeitado. O Homem, imagem de Deus, só pode estar protegido por uma dignidade inviolável se o esplendor de Deus brilhar no seu rosto.


PENSAMENTO CENTO E TRINTA E TRÊS

Sendo a vida um bem «indisponível», o homem não é seu dono, mas antes o seu guardião e administrador.

PENSAMENTO CENTO E TRINTA E QUATRO

A palavra «respeito» deriva do latim «respicere – observar» - e indica um modo de olhar as coisas e as pessoas que leva a reconhecer a sua consistência, a não se apropriar delas, mas a tomá-las em consideração e a cuidá-los.
Em última análise, se são privadas da sua referência a Deus enquanto fundamento transcendente, as criaturas arriscam-se a cair em poder do arbítrio humano que, tal como vemos, pode ser usado de modo insensato.

PENSAMENTO CENTO E TRINTA E CINCO

Na chamada sociedade do bem-estar, a vida é exaltada enquanto for agradável, mas tende a ser tanto menos respeitada quanto mais doente ou diminuída se apresente. Mas, se o ponto de partida for o amor profundo por cada pessoa, é possível pôr em prática formas eficazes de serviço à vida, tanto à que vai nascer como à marcada pela marginalidade ou pelo sofrimento, particularmente na sua fase terminal.

PENSAMENTO CENTO E TRINTA E SEIS

Não nos devemos limitar a fazer uma reflexão teórica sobre as dificuldades, os problemas e as tentações que nos surgem – de onde vêm? Devemos antes reagir positivamente, invocando o Senhor e mantendo contacto vivo com Ele.
Devemos gritar o nome de Jesus: «Jesus, ajuda-me!». E podemos estar certos de que Ele nos ajudará, porque o Senhor está perto de quantos O procuram (Sl 145 (144), 18).

PENSAMENTO CENTO E TRINTA E SETE

A luz que Jesus irradia é o esplendor da verdade. Qualquer outra verdade é apenas um fragmento da Verdade que Ele é e que volta para Ele. Jesus é a Estrela Polar da liberdade humana: sem Ele, ela perde a orientação, porque sem o conhecimento da verdade a liberdade perverte-se, isola-se e reduz-se a estéril arbítrio. Com Ele, a liberdade reencontra-se, reconhece a sua vocação para o bem e exprime-se em acções e comportamentos caridosos.

PENSAMENTO CENTO E TRINTA E OITO

Nada como o amor à verdade para impelir a inteligência rumo a horizontes inexplorados.

PENSAMENTO CENTO E TRINTA E NOVE

Toda a provação acolhida com resignação é meritória e atrai benevolência divina sobre toda a humanidade.

PENSAMENTO CENTO E QUARENTA

Jesus coloca-se perante o homem na sua integralidade, para o curar completamente no corpo, na psique e no espírito. Com efeito, a pessoa humana é um todo e as suas diversas dimensões podem ser distinguidas, mas não separadas.

PENSAMENTO CENTO E QUARENTA E UM

A doença faz de tal maneira parte da condição humana que pode ser transformada numa metáfora realista, como Santo Agostinho bem exprime na sua oração: «Tem piedade de mim, Senhor! Vê: não te escondo as minhas feridas. Tu és o médico, eu sou o doente; Tu és misericordioso, eu sou miserável».

PENSAMENTO CENTO E QUARENTA E DOIS

O Senhor encontra uma morada na nossa alma e na nossa vida. Mas não devemos trazê-l’O só no coração, devemos levá-l’O ao mundo de tal maneira que também nós possamos, no nosso tempo, gerar Cristo.

PENSAMENTO CENTO E QUARENTA E TRÊS

Nos dias de hoje, tem vindo a afirmar-se uma cultura caracterizada pelo relativismo individualista e pelo cientismo positivista; é, portanto, uma cultura tendencialmente fechada a Deus e à sua lei moral, ainda que nem sempre oposta ao cristianismo em termos de o prejudicar. Por isso, os católicos são chamados a efectuar um grande esforço para desenvolver o diálogo com a cultura actual de modo a abri-la aos valores eternos da Transcendência.

PENSAMENTO CENTO E QUARENTA E QUATRO

Caros jovens (…) No caminho da vida, que não é fácil nem desprovida de ciladas, podemos encontrar dificuldades e sofrimentos e, por vezes, series mesmo tentados a exclamar como o Salmista: «Estou cansado de sofrer» (Sl 119 (118), 107). Não esqueçais, contudo, de acrescentar como ele: «Senhor dá-me vida segundo a tua palavra (…) ». A presença amorosa de Deus, através da Sua Palavra, é lâmpada que dissipa as trevas do medo e alumia o caminho mesmo nos momentos mais difíceis (Sl 119 (118) 15).

PENSAMENTO CENTO E QUARENTA E CINCO

«Para conseguir um coração dócil» (1 R 3, 9) o segredo está em cultivar um coração capaz de escutar.

PENSAMENTO CENTO E QUARENTA E SEIS

Para ser fecundo no campo espiritual, o amor não deve seguir apenas as leis do mundo, mas deve deixar-se iluminar pela verdade que é Deus e traduzir-se nessa medida superior da justiça que é a misericórdia.

PENSAMENTO CENTO E QUARENTA E SETE

Que o exemplo de São José, «homem justo», plenamente responsável perante Deus e perante Maria, constitua para todos uma fonte de coragem no caminho para o sacerdócio. Ele mostra-se sempre atento à voz do Senhor, guia os acontecimentos da História, e pronto a seguir as suas indicações; sempre fiel, generoso e despojado no serviço; mestre eficaz de oração e de trabalho no recolhimento de Nazaré.
Para garantir-vos, caros seminaristas, que, quanto mais avançardes, com a graça de Deus, na vida do sacerdócio, melhor experimentareis a riqueza dos frutos espirituais de ter São José como referência e de invocar o seu amparo no desempenho dos vossos deveres quotidianos.

PENSAMENTO CENTO E QUARENTA E OITO

O tempo da Quaresma não deve ser encarado com espírito «velho», como se se tratasse de uma incumbência pesada e maçadora, mas com o espírito novo de quem encontrou em Jesus e no seu mistério pascal o sentido da vida e sabe que, a partir de agora, tudo deve referir-se a Ele.
PENSAMENTO CENTO E QUARENTA E NOVE

Melhorámos imenso os nossos conhecimentos e identificámos melhor os limites da nossa ignorância; mas parece que a inteligência humana tem dificuldade em entender que, ao olhar para a criatura, está na presença da marca do Criador. Na realidade, aquele que ama a verdade, como é o vosso caso, caros estudiosos, devia perceber que a pesquisa sobre temas tão profundos nos coloca em condições de ver e quase mesmo de tocar a mão de Deus. Para lá dos limites do método experimental (…) onde já não basta a mera percepção sensorial nem a verificação científica, começa a aventura da transcendência, o dever de «ir mais longe».

PENSAMENTO CENTO E CINQUENTA

Quem não dá Deus não dá o suficiente.

PENSAMENTO CENTO E CINQUENTA E UM

O segredo para vencer as provações e as tentações da vida está na escrita da Palavra de verdade e na rejeição decidida da mentira e do mal. Urge, portanto, ouvir de novo o Evangelho, palavra de verdade, para que se reforce em cada cristão a consciência da verdade que lhe foi dada e assim a viva e se torne Sua testemunha. A Quaresma a isso nos estimula.

PENSAMENTO CENTO E CINQUENTA E DOIS

A resposta de quem segue Cristo consiste em percorrer o caminho escolhido com Aquele que, perante os males do seu tempo e de todos os tempos, abraçam decididamente a Cruz, seguindo o caminho mais longo mas mais eficaz do amor.

PENSAMENTO CENTO E CINQUENTA E TRÊS

Não é arrogando a vida para nós nem possuindo-a e tornando-a dos outros que conseguimos encontrá-la, mas sim dando-a. Eis o sentido último da Cruz: não tirar a vida, mas dá-la.

PENSAMENTO CENTO E CINQUENTA E QUATRO

A vida humana é uma solução. Apenas em relação, e não fechados em nós mesmos, podemos ter a vida. E a relação fundamental é a relação com o Criador, porque senão todas as outras relações são frágeis. O essencial é, portanto, escolher Deus. Um mundo vazio de Deus, um mundo que esqueceu Deus perde a vida e cai numa cultura de morte.

PENSAMENTO CENTO E CINQUENTA E CINCO

É preciso agradecer às mães, sobretudo porque tiveram a coragem de dar a vida. E temos de lhes pedir que completem este seu dom da vida dando a amizade com Jesus.

PENSAMENTO CENTO E CINQUENTA E SEIS

Em última instância, a fé é um dom. Portanto, a primeira condição consiste em deixarmos que nos dêem alguma coisa, em não nos julgarmos auto-suficientes nem fazermos tudo sozinhos, porque isso não é possível, abrindo-nos à consciência de que o Senhor dá realmente.

PENSAMENTO CENTO E CINQUENTA E SETE

Ninguém crê apenas por si mesmo. Acreditamos sempre na e com a Igreja. O Credo é sempre um acto partilhado, um deixar-se inserir numa comunhão de caminho, de vida, de palavra, de sentimento. Não somos nós que «fazemos» a fé, no sentido de que é Deus que no-la dá. Mas também não a «fazemos» no sentido de que ela não deve ser inventada por nós.
Devemos, por assim dizer, deixar-nos cair na comunhão da fé e da Igreja.

PENSAMENTO CENTO E CINQUENTA E OITO

O grande problema do nosso tempo – em que cada um, querendo ter a vida para si, a perde porque se isola e afasta o outro de si – consiste em reencontrar a comunhão profunda que apenas pode advir de um fundo comum a todas as almas, da presença divina que a todos une. Parece-me que isto só pode acontecer na condição de superarmos a solidão e também a incompreensão, porque também esta resulta do facto de o pensamento se encontrar hoje dividido. Cada um procura o seu modo de pensar e de viver e não existe comunicação numa visão profunda da vida.

PENSAMENTO CENTO E CINQUENTA E NOVE

A juventude sente-se exposta a novos horizontes nos quais a geração anterior não participa porque existe uma falta de continuidade da visão do mundo, preso numa sequência cada vez mais rápida de novas invenções. Em dez anos tiveram lugar mudanças maiores do que as verificadas nos cem anos anteriores. E assim se separam realmente os mundos…
Vemos que o mundo muda cada vez mais rapidamente e que estas mudanças contribuem também para a sua divisão. Por isso, o que é permanente torna-se mais importante num tempo de renovação e de mudança.

PENSAMENTO CENTO E SESSENTA

Esta humildade de aceitar também as próprias limitações é muito importante. Por outro lado, só assim podemos crescer, amadurecer e pedir ao Senhor que nos ajude a não esmorecer pelo caminho, mas antes a aceitar com humildade que nunca seremos perfeitos, aceitando também as imperfeições, principalmente as dos outros. Aceitando a nossa própria imperfeição poderemos mais facilmente aceitar as do outro, deixando que o Senhor nos forme e reforme continuamente.

PENSAMENTO CENTO E SESSENTA E UM

Isto é de grande importância: devemos aceitar a separação que existe. São Paulo afirma que os cismas são necessários durante um certo tempo e o Senhor sabe bem porquê: para nos pôr à prova, para nos exercitar, para nos fazer amadurecer, para nos tornar mais humildes. Mas, ao mesmo tempo, somos obrigados a caminhar no sentido da unidade e caminhar rumo à unidade é já uma forma de unidade.

PENSAMENTO CENTO E SESSENTA E DOIS

«Seguir Cristo e tomar a Sua Cruz» (Lc 9, 23), significa não procurar a própria vida, mas dar a vida e é uma interpretação do que quer dizer «escolhe a vida» (Dt 30, 19).

PENSAMENTO CENTO E SESSENTA E TRÊS

Para realizar a vida em plena liberdade é preciso superar a prova que a própria liberdade comporta, ou seja, a tentação. Somente liberta da escravidão da mentira e do pecado, e graças à obediência da fé que abre à verdade, a pessoa humana consegue encontrar o pleno sentido da sua existência e atingir a paz, o amor e a alegria.

PENSAMENTO CENTO E SESSENTA E QUATRO

Não podemos levar ao mundo a boa nova, que é o próprio Cristo em pessoa, se não estivermos em profunda união com Ele, se não O conhecermos profunda e pessoalmente, se não vivermos da Sua Palavra.

PENSAMENTO CENTO E SESSENTA E CINCO

(Maria) vive na Palavra de Deus, vive no interior da Palavra toda a sua existência. Quase podemos dizer que ela está impregnada pela Palavra. Assim, é a Palavra que inunda e forma todo o pensamento, toda a sua vontade e toda a sua acção.

PENSAMENTO CENTO E SESSENTA E SEIS

A existência humana é um caminho de fé e, como tal, tem mais zonas de penumbra do que de plena luz e também momentos de obscuridade e mesmo de escuridão cerrada. Enquanto estivermos cá em baixo, a nossa relação com Deus será mais baseada na escuta do que na visão; e na própria contemplação faz-se, por assim dizer, de olhos fechados, graças à luz interior que a Palavra de Deus acende em nós.

PENSAMENTO CENTO E SESSENTA E SETE

Não existe nenhuma contraposição entre Cristo e a Igreja. Portanto, aquele “slogan” «Jesus sim, Igreja não», que estava na moda há alguns anos, é totalmente inconciliável com a intenção de Cristo. Entre o Filho de Deus feito carne e a Sua Igreja existe uma continuidade profunda, inquebrável e misteriosa por força da qual Cristo está hoje presente no seu povo e especialmente naqueles que são os sucessores dos Apóstolos.

PENSAMENTO CENTO E SESSENTA E OITO

Se virmos bem, os mandamentos são o meio que o Senhor põe à nossa disposição para defendermos a nossa liberdade, quer dos condicionamentos internos das paixões, quer dos abusos externos dos mal-intencionados. Cada «não» dos mandamentos representa um «sim» ao crescimento de uma liberdade autêntica.

PENSAMENTO CENTO E SESSENTA E NOVE

É indispensável que o Homem não se deixe escravizar pelo trabalho, que não o idolatre pretendendo encontrar nele o sentido último e definitivo da vida… O Sábado é o dia santificado (Ex 20, 8-9), ou seja, consagrado a Deus, no qual o Homem compreende melhor o sentido da sua existência e também da sua actividade laboral. Pode-se, portanto, afirmar que o ensinamento bíblico sobre o trabalho encontra o seu remate no mandamento do descanso.

PENSAMENTO CENTO E SETENTA

Vinde para podermos ver (Jo 1, 39). A aventura do Apóstolos começa assim, com um encontro de pessoas que se aproximam entre si. Começa para os discípulos um conhecimento directo do Mestre. Vêem onde mora e começam a conhecê-lO. Efectivamente, eles não serão anunciadores de uma ideia, mas testemunhas de uma pessoa. Antes de serem enviados a evangelizar, precisam de «estar» com Jesus (Mc 3, 14) e de estabelecer com ele um relacionamento pessoal. Assim sendo, a evangelização não é mais do que um anúncio daquilo que se experimentou e um convite a entrar no mistério da comunhão com Cristo (Jo 1.3).

PENSAMENTO CENTO E SETENTA E UM

No original grego, «cheia de graça» diz-se «amada» por Deus (Lc 1, 28). É um título que se exprime de forma passiva, mas esta «passividade» de Maria, que é desde sempre e para sempre a «amada» do Senhor, implica o seu livre assentimento, a resposta pessoal e original: ao ser amada, ao receber o dom de Deus, Maria apresenta-se plenamente «activa» porque acolhe com a sua disponibilidade pessoal a onda de amor de Deus que se derrama sobre si. Também nisto ela é a discípula perfeita do Filho que realiza a sua própria liberdade na obediência ao Pai e exerce a sua liberdade precisamente deste modo: obedecendo.


PENSAMENTO CENTO E SETENTA E DOIS

Em suma, a Cruz é um «sinal» por excelência que nos foi dado para compreendermos a realidade do Homem e a verdade de Deus: todos fomos criados e redimidos por um Deus Que, por amor, sacrificou o Seu Filho único. Eis por que razão na Cruz «se cumpre aquele virar-se de Deus contra si próprio, com o qual se entrega para salvar o ser humano e salvá-lo – o amor na sua forma mais radical.

PENSAMENTO CENTO E SETENTA E TRÊS

A comunhão «Koinoniá» é um dom que também tem consequências muito reais: faz-nos sair da solidão e de nós mesmos e torna-nos participantes no amor que nos une a Deus e uns aos outros.
Se pensarmos nas divisões e nos conflitos que afligem as relações entre as pessoas, os grupos e os povos, facilmente compreenderemos a grandeza deste dom. A «comunhão» é realmente a Boa Nova, o remédio que o Senhor nos dá contra a solidão que hoje a todos ameaça, o dom precioso que nos faz sentir acolhidos e amados em Deus, na unidade do seu povo reunido em nome da Trindade.

PENSAMENTO CENTO E SETENTA E QUATRO

Para respondermos à chamada de Deus e nos metermos ao caminho, não precisamos de ter atingido a perfeição. Sabemos que a consciência do pecado permite ao filho pródigo empreender o caminho de regresso e experimentar, assim, a alegria da reconciliação com o Pai. As fragilidades e as limitações humanas não constituem obstáculo, desde que contribuam para nos tornarmos cada vez mais conscientes da necessidade que temos da graça redentora de Cristo.